sexta-feira, 9 de julho de 2010

Memórias Esquecidas

É incrivel como facilmente muitas memórias são esquecidas.
Memórias da infância, que fizeram de nós o que somos hoje. Memórias que agregam, mas também desagregam, que alegram e nos entristece, que amamos lembrar, mas também que queríamos esquecer.
Ah! Memórias.
Lembrar da minha cidade me traz esperança. Cidade que nem sei se minha, pois uma cidade pertence a todos quantos a guardam no coração.
Uma lembrança sempre guardo viva na memória: minha avó acordando cedo todas as manhãs para trabalhar na pequena e farmácia da região, e do meu avô que cedo recebia o leite na porta de casa para o desjejum esperado, uma vez que logo a mercearia tinha que abrir. "Bom dia, Dona Donzinha! Como vai a família?", "Bom dia, Dona Donzinha! Quem é essa meninha tão linda que está com a senhora? Olha como se parece com a senhora... É sua neta?", "Olá, seu Olívio! Como vão os filhos? Eles estão aqui por esses dias, né?".
Logo após os "bom dia" eles abriam um sorriso. Parcecia que a cidade inteira era uma grande família. Uma família que ajudava, que amava, mas que também atrapalhava, fofocava. Mas qual família é perfeita?
Fim de tarde quando tudo se fechava, meu avô já estava na sua cadeira de balanço. "Menina, fica queita! Menina tua avó vem já! A gente janta já!"
A noite, o céu cheio de estrelas, as cadeiras na calçada, minha irmã dormindo, ou chorando, como era bem do seu feitio, a conversa solta e as gargalhadas no ar.
Hora de dormir? Sim, hora de dormir. Apaga-se a lâmpada da casa de telha, sem forro, cujo interruptor era aquele de "perinha", longe das paredes, suspenso por um único fio que caía do telhado. PLIC, PLIC! Agora só quando o galo cantar.
O que hove com o resto das minhas memórias?
Porque me desvinculei tanto da simplicidade que fui criada?
Se nossa memória fosse realmente eficaz, Jesus não tinha dito na ceia: "Fazei isto em memória de mim."
Que as memória que guardamos em um lugar escuro e esquecido, possam nos lembrar dos momentos únicos que nos foram dados. Momentos que não voltam mais, mas que fizeram de nós o que somos hoje.

Melina Rocha Mourão Alves
Neta de dois cidadãos Jatienses e bisneta do Tenente Arlindo Rocha, eterno perseguidor de lampeão.